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Tudo pelo Paul
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Em se tratando da quantidade das audições ao vivo de canções dos Beatles, depois das apresentações Banda Rubber Soul, Paul McCartney foi o Fab Four de quem eu mais assisti a shows. Ao todo, foram 8, desde a primeira vez em que o cantor e compositor inglês fez sua estreia no Brasil, em 1990.
Foi na antológica apresentação no Maracanã em 20 de abril daquele ano, em que finalmente os brasileiros tiveram a oportunidade de assistir a um espetáculo do baixista dos Beatles. Naquela época, qualquer sacrifício para nós beatlemaníacos valia a pena para se emocionar com o show do Paul. Desde parcelar as passagens de avião através de crediário, até pedir dinheiro emprestado, tudo por conta do confisco da nossa poupança, herança maldita do governo Collor.
A longa e tortuosa espera durou um dia a mais, por conta de uma pesada chuva que banhou todo o Rio de Janeiro, naquele 19 de abril de 1990, transferindo para o dia seguinte a performance de McCartney no Brasil. No primeiro show fui com minha amiga, a cantora e educadora Bia Bedran e o seu namorado. Assistimos no gramado, numa posição não tão próxima, por conta de uma multidão que já se postava em frente do palco quando chegamos.
No segundo dia, 21 de abril, decidimos chegar mais cedo, para nos posicionarmos também no gramado, num local perto do palco. Assim, ao entrarmos no Maracanã, eu e a minha amiga Astrid Miranda Leão, devidamente equipada com um banquinho, ficamos no “gargarejo”. Os dois shows foram inesquecíveis, principalmente quando Paul cantava músicas da época dos Beatles. Era fechar os olhos e imaginar que John, George e Ringo também participavam do espetáculo.
Um dos momentos mais impactantes dos dois shows sem sombra de dúvidas foi durante o desenrolar da canção “Live And Let Die”, na qual ocorre uma explosão pirotécnica, presente até hoje nas apresentações de Paul. Lembro de ver muita gente de todas as idades, chorando de emoção ao ouvir as canções com as quais se identificavam mais. Recordo também do nosso amigo Fábio Parente pedir inicialmente para McCartney interpretar “Maybe I’m Amazed” e como não foi atendido, gritar depois, “Paul, canta ‘Maybe I’m Amazed’, fi duma égua”, num autêntico linguajar cearense. Não foi atendido, pois a canção não estava no set list.
Depois dos dois shows, com a alma lavada e enxaguada na emoção, todos os amigos de Fortaleza que se conheciam e estavam no Maracanã, acompanhavam o refrão batizado pela Astrid: “Tudo pelo Paul”, que refletia o êxtase no qual nos encontrávamos por conta das magníficas exibições de McCartney, apesar de todos os sacrifícios que tivemos de passar, alguns deles já relatados acima. Esse bordão passou a ser repetido depois em todos as outras apresentações que o baixista dos Beatles fez no Brasil, nas quais nossos amigos também compareceram.
Na viagem de volta para Fortaleza, eu e a Astrid conhecemos pessoalmente Kildare Rios, hoje vocalista da banda Rubber Soul. Como já participávamos do “Música de Todo o Mundo”, na Rádio Universitária FM, nos somamos também ao Fábio Parente, e, numa votação com os ouvintes, surgiu o Frequência Beatles, até hoje no ar. Atualmente o programa também conta com os colaboradores Vera Lúcia Santiago, Luiz Antônio Alencar, Carlos Roberto, Francisco Parente, Márcia Carneiro, Synara McCartney e Cynthia Fortuna.
Já com camisetas personalizadas, a Turma do Frequência Beatles também marcou presença nos espetáculos de Paul McCartney em 1993, primeiramente no Pacaembu, em São Paulo. O show foi tão emocionante que, de modo improvisado, parte dos integrantes foi também, de ônibus, para a apresentação em Curitiba. A viagem, feita numa noite chuvosa pela famosa Rodovia da Morte, gerou muita apreensão, notadamente nas mulheres, as quais gritavam sempre que raios e trovões se manifestavam, durante a copiosa chuva no céu.
No que se refere ao aspecto da proximidade com o ídolo, o show na Pedreira Paulo Leminski, foi o mais emocionante. Estávamos tão perto do palco que dava até para ver o suor no rosto de McCartney. Nem a gelada lama em que pisávamos no chão desestimulava nossa energia de também agitar nas músicas mais dançantes.
Dezessete anos depois, em 2010, a turma do Frequência Beatles também se deslocou para São Paulo e no dia 21 de novembro assistiu ao show no Morumbi. Êxtase total, principalmente quando a plateia cantou junto com seu ídolo, a canção “Yesterday”. Em 2011, com a minha mulher Cynthia e o nosso filho Brian Daniel, a catarse familiar aconteceu quando foi cantado coletivamente “Hey Jude”, com homenagem do público levantando cartazes com o refrão “na na na”.
Em 2012, as audições foram na Veneza Brasileira. Nos dois shows em Recife, mais uma vez a turma do Frequência Beatles marcou presença. O segundo dia, parte da galera cearense viu Paul McCartney acenar aos presentes, quando chegava para a apresentação no Arrudão. Para mim, todas as exibições foram marcantes e cada uma teve sua peculiaridade, as quais até hoje permanecem na minha memória. Creio que, neste 9 de maio de 2013 no Castelão, não será diferente. Reforço o convite para os que ainda não adquiriram ingressos, beatlemaníacos ou não: aos que gostam da boa música, façam um sacrifício e procurem assistir ao espetáculo que será o divisor de águas no show bizz no Ceará.
Como disse a Astrid, “tudo pelo Paul”. E que venha também o Ringo Starr, que já confirmou temporada no Brasil, em novembro de 2013.
Nelson Augusto - jornalista
ESPECIAL O POVO ON-LINE