
Franceses elegem primeiro presidente socialista em 24 anos

As eleições na França foram ainda mais apertadas do que previam as pesquisas. François Hollande foi eleito presidente da França com 51,8% dos votos contra 48,2% de Nicolas Sarkozy. De acordo com a tradição no País, o comparecimento dos eleitores às urnas no segundo turno é sempre maior que no primeiro: foram 81,5% ontem.
Em discurso quase protocolar na Salle de la Mutualité, Nicolas Sarkozy, com a fleugma de sempre, mas visivelmente emocionado, admitiu a derrota. Disse que Hollande era o presidente da França e que era preciso respeitá-lo. Afirmou que o ideal dos franceses era o ideal de toda sua vida. Agradeceu a todos, e encerrou dizendo: “Eu amo vocês”. Em um movimento espontâneo, a multidão entoou La Marseillaise, o hino nacional francês. Em telefonema a Hollande, Sarkozy desejou boa sorte e disse: “Será difícil!
Falando à multidão que desde cedo lotava a Place de la Bastille, perto da rue Solférino, onde fica a sede do Partido Socilalista, em seu primeiro discurso, depois de eleito, Hollande afirmou que será o presidente de todos os franceses e disse ainda: “A mudança que eu proponho é uma mudança à altura da França”... “Eu sei que a Europa nos observa”, enviou “saudações republicanas a Nicolas Sarkozy e deixou o palco ao som de La vie en rose, tocado por um grupo musical. A rosa vermelha é o símbolo do PS.
Hollande é o primeiro presidente socialista eleito em 24 anos, desde François Mitterrand, em 1988, quando este derrotou Valéry Giscard d’Estaing. Ainda no início da campanha, os jornalistas reconheceram em Hollande a tentativa de imitar Mitterrand na postura, na atitude, no tom de voz. Deu certo. Àquela época, alinhado ao chanceler alemão Helmut Kohl, Mitterrand transformou a França num dois países mais respeitados politicamente no continente europeu. Ao defender durante a campanha uma revisão do pacto da União Europeia, o presidente eleito anuncia rota de colisão com Angela Merkel. Terá envergadura política para tanto?
A primeira medida simbólica anunciada por François Hollande, após tomar posse – o que deve acontecer até o dia 16 de maio – será a redução em 30% dos salários do presidente e dos ministros. Depois disso, o novo presidente deverá se haver com suas promessas de campanha: aumentar impostos sobre lucros das empresas e altos salários, subsidiar empresas que acolham os trabalhadores mais jovens e mais velhos, uma reversão parcial do aumento da idade de aposentadoria para 62 anos e um orçamento equilibrado até 2017.
Nomeação dos cargos
Do ponto de vista interno, a nomeação dos cargos já começa a chamar a atenção dos franceses. Para ocupar o cargo de primeiro-ministro cogitam-se os nomes do prefeito de Nantes, o deputado socialista Jean-Marc Ayrault e da secretaria-geral do PS, prefeita de Lille, Martine Aubry.
Muitos dos que comemoravam nas ruas de Paris vestiam uma camisa vermelha com os dizeres em preto: “C’est maintenant!” ou seja, “É agora!” Os socialistas esperam a mudança prometida por Hollande, como afirmou um dos presentes: “É agora a justiça social. É agora a hora da França. É agora que vamos trabalhar juntos, todos juntos.” E completa: “Sarkô est finit”, ou “Sarkozy acabou.”
Para o bem de todos, é preciso mesmo desejar boa sorte à França. Pressionado pela crise europeia, a quase impossível situação econômica do país, amarrado pela política de austeridade do pacto europeu e dependendo, mais que nunca da cumplicidade com a Alemanha, François Hollande não terá muito espaço para grandes movimentos. No caso da França, é apropriado lembrar a frase de Lampedusa na voz do príncipe Tancredi Falconeri, na obra Il Gattopardo: “É preciso que as coisas mudem, para que permaneçam como estão”.