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As histórias contadas na avenida
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O colorido, as plumas, as penas e os paetês dos desfiles de maracatu têm motivo. Na noite deste domingo, muitas delas passam pela avenida Domingos Olímpio, em 13 agremiações de maracatu. Contam várias histórias que se irradiam para uma narrativa em comum: um cortejo para a coroação de uma rainha negra.
Figuras principais do maracatu serão as 13 rainhas, uma para cada agremiação. As alas à frente da corte preparam, festejam e celebram o momento da coroação. Adriana Marcelino, 58, já foi feita majestade cinco vezes.
O ano de 2012 é o sexto do reinado no maracatu Nação Axé de Oxossi, no bairro Farias Brito. Nem por isso, a auxiliar de construção fica menos nervosa. O enredo deste ano, da agremiação, é Homenagem a Oxum. A loa (música), a rainha já leva de cor.
“Apesar de ser só uma representação, tem um peso muito grande o desfile da rainha”, revela, enquanto recebe a tintura do falso negrume sobre a pele para uma apresentação antes da festa principal. “A rainha consegue carregar muito da emoção na avenida. Se ela está bem, toda a escola fica bem”, assegura.
Todo o cortejo é preparado para a rainha. É um momento tão esperado que o músico Iulix Matos, macumbeiro ou tirador de loa (cantor) do maracatu Nação Axé de Oxossi, apesar de ser apaixonado pela passagem na avenida, aponta como o mais bonito do desfile. Algumas alas são obrigatórias para o desfile das agremiações. “Porta-estandarte, orixás, ala dos índios, negra do incenso, negra da calunga, casal de pretos velhos, cordão dos africanos, baianas, balaieiro, macumbeiros, batuque e corte. Cada um tem sua função”, destaca.
A função do porta-estandarte é anunciar a entrada da agremiação na avenida. Carrega a bandeira e o orgulho de quem faz parte daquele maracatu. Iulix Matos conta que os orixás representam a ancestralidade negra; a calunga é a fertilidade e o casal de pretos, a sabedoria.
Como são fundamentais nas apresentações do maracatu, as rainhas devem usar trajes impecáveis. A roupa é surpresa só revelada no desfile. Lucy Magalhães, 48, carrega o reinado do maracatu Az de Ouro desde 2007. Em 2012, o traje é uma homenagem ao Zé Rainha, que era símbolo da escola e morreu ano passado.
A rainha do maracatu conta que incorpora a figura da corte, mas só na avenida. “Apesar de a festa toda ser para a rainha, as pessoas que representam não podem perder a humildade. Até para a festa ser mais bonita”.
Fonte: Jornal O Povo